sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Então eu vou lhe cortar a cabeça, Maria Chiquinha



Parafraseando o tenente Bill Kilgore, de Apocalypse Now, adoro o cheiro de corpo sangrando pela manhã. Não adorava até esta manhã. A partir de agora adoro.
Tenho uma mulher linda. Tinha. Quer dizer, ainda tenho só que no momento ela se encontra um tanto... fria.
Fria e tão bela como eu nunca tinha visto. Como o contraste da pele, a cada minuto mais branca, com o vermelho do sangue lhe esvaindo da garganta lhe cai bem. Sem contar os mamilos intumescidos (parece um tanto doentio, mas creio que ela sentiu algum prazer enquanto agonizava) apontando para o céu, talvez o lugar onde ela esteja agora. Talvez não. Talvez esteja no inferno, ou simplesmente desaparecido. Reflexões do pós-vida nunca me tomaram muitos esforço dos neurônios, até que a morte lhe confronte desta maneira. Mesmo que seja a morte alheia. Mesmo que tenha sido eu a confrontá-la.
Não faço ideia do motivo pelo qual fiz isso. Minha mulher, além de linda, era maravilhosamente amorosa, companheira e, até onde eu saiba, fiel. Simplesmente num momento de ira não hesitei em transpassar-lhe um estilete na garganta. Ela sangrou e tentou gemer por longos e prazerosos (pelo menos para mim) 12 minutos. Exatos.
Fiquei excitado vendo aquela cena, confesso. Ela ali, nua, as carnes rijas se contorcendo na falta de ar, os cabelos loiros misturados ao sangue que lhes tingia. Sempre pedi que ela pintasse o cabelo de ruivo, mas ela disse que achava vulgar. Vendo ali, tive que concordar. Não acho vulgaridade algo ruim, mas ela achava. Bom, mais um desejo que fiz ela realizar, só que desta vez sem lhe dar muita opção.
Bom, como ia dizendo, fiquei excitado vendo ela ali fria e morta. Senti vontade de me masturbar, porém achei que seria um pouco de falta de respeito com um momento tão sublime entre nós.
Sabe que, quando percebeu o que tinha acontecido, ela me olhou, mas não parecia chateada, sequer surpresa. Parece que sabia que, hora ou outra, eu faria algo do tipo. Não que eu tenha cara de bandido, nem me comporte como um. Não. Estou mais para nerd do que para bandido. Se bem que acho que por baixo de cada óculos de cada nerd tem um assassino em potencial. Não sei, apenas uma teoria. E isso se aplica aos nerds que não usam óculos também, pensemos que usam óculos imaginários, certo?
Então, ela não se surpreendeu, não reagiu, nada. Claro que ela não tinha muitas opções de reação mas, nos filmes, as vezes pessoas com gargantas cortadas tentam até matar seus assassinos. Acho que isso tirou um pouco da beleza do acontecimento. A falta de reação e de uma trilha sonora. Ah, uma trilha sonora iria bem. Acho que vou colocar uma música. Não, agora não. Preciso me livrar do corpo, pois assassinar alguém que amava até posso fazer, agora ser preso está fora de cogitação.
Mas o que fazer com o corpo meu Deus, o que?
Decidi botar, sim, uma música. Echoes, do Pink Floyd foi a pedida. Além de achar que o fato de ser bela e soturna em determinados momentos, o que combina em muito com a situação, ela me daria belos vinte e cinco minutos de tempo para pensar.
E eis que, com a ajuda de Waters e Cia, tive uma epifania: moramos no décimo sexto andar, porra! Simulo uma briga e atiro-a lá de cima, legítima defesa. O fiz. Espalhei algum sangue, meu e dela pela casa e defenestrei-a. Pronto.
Mas o problema de uma epifania é que normalmente elas vêm em seqüência. Dei-me conta que havia cortado a garganta dela antes. Obviamente qualquer legista meia boca saberia que isso já havia ocorrido antes da queda, e que ela já estava morta muito antes de tocar o solo.
Sem saber o que fazer, olhei pra baixo e percebi: ela tinha caído de bruços, suas nádegas nuas e bronzeadas apontadas para mim. Num misto de desespero e excitação, me atirei, também nu agora, em direção a ela. Este seria nosso último coito.
Talvez o próximo seja no inferno...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Interpretações



Andei escrevendo uma letra para uma música minha, e debatendo com a @marianaa_lm (já perceberam que não se cita mais uma pessoa, mas o seu avatar no tuits?), nossa assessora para assuntos poético-musicais, ela discorria sobre minha letra quando me dei conta: ela buscava coisas na letra que eu mesmo não tinha percebido.
Que Diabos!
Minhas convicções a respeito do que estava escrevendo lá se perdeu pois, sem o sentido que eu queria dar a música, de que valia escrevê-la? Se não consigo sequer direcionar a interpretação que gostaria que as pessoas tivessem, não se torna a poesia inútil?
Não.
Essa é justamente a beleza da poesia. O fato de cada um lê-la a sua maneira, com seus olhos, sua mente e sua vivência, o que cria para cada pessoa um entendimento diferente, sensações diferentes e emoções diferentes.
Muitas músicas já me deixaram assim, até descobrir (ou não) o sentido verdadeiro delas. Por exemplo, um trecho da música “A Little Peace of Heaven”, da banda Avanged Sevenfold, fala “Antes que as possibilidades virassem verdade eu tirei as possibilidades de você”. Eu entendia como uma pessoa que tivesse conquistado a outra, antes que ela pudesse pensar direito. Vendo o clipe da música, descobre-se que se trata de uma pessoa que mata a outra antes que ela lhe dê o fora.
Uma do Raul Seixas que faz muito sentido nos tempos de catástrofes naturais de hoje, mas que, não houvessem estas desgraças, talvez não fizesse tanto sentido, que é: “Buliram muito com o planeta. O planeta como um cachorro eu vejo. Se ele já não ‘güenta’ mais as pulgas se livra delas no sacolejo”.
Há outras realmente sem sentido, como, acho que já citei em texto anterior, essa: “Mas o caracará foi dizer pra rosa que a luz dos cristais vem da lua nova e dos girassóis”. Hã? WTF??? Alguém consegue me explicar essa?
Bueno, vai aqui a letra que gerou toda essa discussão, talvez vocês achem uma nova direção interpretativa pra ela.

Onde foram nossos risos que jogávamos ao ar?
As reflexões ‘in vitro’ que passamos a aceitar
Onde o santo e o bandido formam bela dupla, um par.
O que foi este gemido, dar prazer ou torturar?
O que foi?

Qual o laudo que define em que lado vai estar
A defesa que reprime o terror e a nossa paz?
Quem é nosso Stephen King? Quem irá nos assustar?
Quando foi que fomos livres pra viver e pra pensar?
Quando foi?

Cada um com seu umbigo.
Cada forma de poder.
Cada droga um sentido
Pra ganhar ou pra perder.

Qual sono nos redime, da miséria de chegar?
Havia de ser sublime nossa raiva elementar.
Qual é mesmo aquele filme que assistimos sem chorar?
Quando foi que Chico disse “O que será o que será”?
O tempo se foi...


Cada um com seu umbigo.
Cada forma de poder.
Cada droga um sentido
Pra ganhar ou pra perder.

Então, ela disse que achou alguma culpa no primeiro verso, que lendo depois também achei, mas não tinha antes dela falar.
O segundo verso fala de algo que esteve um tempo atrás na mídia, vejam se vocês percebem...
O terceiro, não faço absolutamente a idéia do que eu quis dizer.
Já o refrão é a parte óbvia da música.
E você? O que entenderam? Talvez achem mais um sentimento incrustado nessas veias poética...

Ah, e não tive tempo pra revisar este texto, então, se virem algum erro, me avisem...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Roteiros


Alguns anos atrás, quando cursava artes visuais na UNESC, tive aulas de artes cênicas. Essas aulas me fizeram desenvolver um desejo imenso de escrever uma peça de teatro. A falta de disciplina para escrever a peça me fez ter uma vontade desgraçada de escrever um livro. A falta de disciplina para escrever um livro me fez querer escrever um roteiro de filme. Porém, enquanto a Ancine (é sabido que a Ancine é como as universidades públicas: só ajuda quem não precisa) não me financia e nenhum produtor de cinema bem financiado queira me comer (talvez consiga), terei que adiar também esse sonho. Porém, tenho algumas idéias. Explicitá-las-ei aqui.

VAGINAS ESCALDANTES

Cidadezinha no interior da Paraíba, com cerca de cinco mil habitantes. Três mulheres aparecem pegando fogo (literalmente), vindo de lugar desconhecido. Só que acontece o seguinte: não morrem, mesmo queimando. Três paraíbas (estrelados por Matheus Nachtergaele; o ator que faz o Sem Chance, em Carandiru e, estreiando no cinema, o ex-jogador Cafu) decidem tomar uma atitude: pegam a pouca água que há na cidade e apagam a chama que queima as mulheres. Descobrem que por baixo do véu de fogo estavam lindas mulheres (estreladas por Scarlet Johansson, Halle Berry e Jessica Biel). Estas, agradecidas, decidem lhes retribuir com favores sexuais. Ai se dá a catástrofe: as vaginas das moças, ainda quentes, derretem os pênis dos protagonistas. Triste. A trilha sonora seria da banda Blues Etílicos. O filme levantaria ainda questões filosóficas sobre nossa chama interior, o casamento e, estranhamente, o governo Dilma.

O BONDE DO AMOR PSEUDO-SOCIALISTA

Rússia, década de 20. Uma russa, chamada Protagoneva, vive com seus pais numa humilde casa no norte. Um general do exército socialista, Birrochenko, fazendo uma investida na região, se apaixona perdidamente e a leva pra morar em sua casa na capital, Moscou (era esta a capital na época?). Então se estabelece a crise: Protagoneva quer um sorvete, mas a cota de sorvetes distribuída pelo governo acabara. Ela quer ir ao cinema, mas o governo censurou todos os filmes. Pede ela um biquíni, mas ele argumenta: “Biquíni pra que, nesse frio?”.
Um empresário americano, John T. Corneious, em visita ao lugar para comprar algumas concessões petrolíferas do governo Russo, seduz Prota com promessas de todos os sorvetes que ela queira tomar. Ela topa ir para a América com John, mas Birrochenko descobre, e, num gesto de raiva, ataca o concorrente. Os dois morrem numa dramática guerra de bolas de neves. Protagoneva rouba o dinheiro do americano e vive feliz para sempre.
Elenco: Cameron Diaz como Protagoneva, Dolph Lundgren como Birrochenko (atuação digna de Oscar) e Sean Penn como John.

PRESIDENT EVIL (Título by @MMazon)

Casa Branca, reunião entre líderes mundiais. Debatendo sobre o futuro do planeta, aquecimento global, crise monetária da Europa e a zaga do Brasil de Pelotas estão Barack Obama (Denzel Washington), Angela Merkel (Meryl Streep), Kim Jong-il (Jack Chan) e Dilma Roussef (Angelina Jolie, haha). No meio de um debate agressivo Dilma, nervosa, aperta um botão vermelho, situado embaixo da mesa.
Corta para um túnel passando em alta velocidade e Lula (Mike Myers) surge do chão com semi-automáticas, matando os outros três participantes da reunião. Lula e Dilma abrem um litro de 51 pra comemorar quando o inesperado acontece: Os três renascem dos mortos para comer os cérebros de Lula e Dilma. Matam os dois e: que decepção! Nada de cérebro!
É decretado feriado nacional comemorativo no Brasil.
Marcela Temer (Megan Fox), depois de uma morte no mínimo suspeita do ex-marido Michel Temer (Michael Douglas), assume a presidência, e todos vivem felizes para sempre.

PERDIDO NA ILHA

Homem de meia idade viaja num avião. O avião cai numa ilha deserta, onde o homem tem que, como único sobrevivente, vencer seus medos e a solidão para sobreviver. Encontra uma bola que se transforma em sua única companheira. Esta deve se chamar Adidas. Depois de alguns meses é resgatado e vê que sua vida desmoronou, sua mulher está casada com outro e seu avô virou drag.
Para esse, no papel principal, acho que escalarei alguém que não seja galã, mas que passe credibilidade. Tom Hanks, talvez.
Acho que este roteiro é o mais promissor. Tomara que não tenham feito nada parecido...

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Muitas vezes Lela você fala...



Vou contar aqui hoje algo que ninguém, nem mesmo minha esposa, ou minha família sabem. Tenho uma amiga chama Lela. Imaginária, lógico. Lela, tem 1, 71 m de altura, pesa 60 quilos, usa óculos tipo PC Siqueira e tem cabelos negros escorridos até o meio das costas. Suas sardinhas contrastam desarmonicamente (existe esta palavra?) com seu aparelho reluzente e protuberante. Pensando agora, não preciso muito descrevê-la: Lela é Ugly Beth. Mas é a Lela.
Lela tem um belo ouvido. Não falei orelha, falei ouvido. Ouve como ninguém, fala pouco, não discorda muito do que penso, se bem que às vezes desconfio do seu sorrisinho sarcástico. Acho que ela me acha um tanto inocente em minhas colocações. Mas isso ela não me diz. Talvez seja esse o seu único defeito (tirando ser feia): a falta de sinceridade. Não é sincera por medo que eu procure um analista e a faça desaparecer, sei lá.
Mas estou fugindo do assunto. O que quero dizer é que, quando vejo algum fato, ou leio algo, gosto de logo contar pra ela. Por exemplo, dia desses li um trecho do Código de ética dos servidores públicos que me deu uma enorme vontade de contar pra ela. Eis:
“Toda pessoa tem direito à verdade. O servidor não pode omiti-la ou falseá-la, ainda que contrária aos interesses da própria pessoa interessada ou da Administração Pública. Nenhum Estado pode crescer ou estabilizar-se sobre o poder corruptivo do hábito do erro, da opressão ou da mentira, que sempre aniquilam até mesmo a dignidade humana quanto mais a de uma Nação”.
Na hora chamei ela e comecei a contar:
- Bah, Lela...
Outro dia me peguei dando uma lida na Constituição, e ela falava algo sobre o salário mínimo muito interessante, dizia que ele devia prover ao trabalhador todas as suas necessidades e de sua família referentes à moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social. Sabendo que o salário mínimo é no momento de R$ 510,00, pensei:
- Bah, Lela...
Outro dia ouvi uma música no rádio cuja letra me fascinou, e logo lembrei da minha amiga. Era o seguinte:
“O simples torna ela demais
Quinta o shopping, domingo os pais
Tente entender por que ainda ligo pra você
Ela só me diz não, pra mim já tornou padrão e faz por querer
Te vejo na minha Vai ser só minha
Falo tão sério, é sério você vai
Vai ser só minha Vem ser só minha
Vai ser você
Aposto um beijo que você me quer”.
- Bah, Lela...
Assim acontece com grande frequência. Vejo as pessoas furando fila e reclamando da corrupção. Bah, Lela. Vejo “amamos vocês” jogados aos quatro ventos. Bah, Lela. Vejo jogadores de futebol fazendo juras de amor aos times. Bah, Lela. Vejo defensores da música brasileira fazendo odes a Carlinhos Brown. Bah, Lela, será que o um representante da música nacional usaria Brown no nome?
E, como eu, acho que cada um tem suas Lelas imaginárias.
Em que situações vocês dizem: Bah, Lela?