domingo, 30 de março de 2008

Revelações


Joe descobriu que havia chego ao limite quando o sangue de seu pulso coagulava no chão e ele, lenta e melancolicamente, perdia os sentidos. O bisturi jogado no canto da câmara escura refletia a luz vermelha do pequeno recinto onde revelava suas fotos. Onde revelava amores, mortes, traições, cumplicidade, medo, êxtase. A luz refletida no bisturi dava-lhe a impressão de estar ficando cego, surdo, mudo, louco. A cor que se esvaia de seu rosto não lhe era vista, mas sim percebida pelo formigamento na face e o branco na mente. As revelações haviam finalmente vencido.
O amor se revelou à primeira vista, já na faculdade, quando fotografara a menina-mulher mais linda que uma lente já ousou focar. O produto de um rosto forte, decidido e perfeito, um corpo curvilíneo único e natural, os lábios repletos de promessas de prazer e amor eterno e, completando a perfeição, os óculos de aros grossos delineando com ainda mais perfeição as maçãs do rosto altas e rosadas, como se tanta beleza forçasse-as a enrubescer diante dos olhares admirados e apaixonados.
A dor se revelou logo ao primeiro não. Ao primeiro não gosto de você, não quero magoá-lo, não podemos ser nada mais que amigos, não diga que me ama, não, não, não. Aumentou aos sins. Sim, estou namorando, sim amo ele, sim estou grávida, sim vou me casar, sim quero que você vá. A rejeição impunha a ele uma dor que nunca havia sentido, e que sabia que nunca mais iria sentir.
O ódio se revelou ao primeiro beijo. O beijo roubado no dia do casamento, o tapa na cara, o pedido para que vá embora, que não volte, que não a procure mais. Ele, que achava que um beijo talvez a trouxesse de volta à realidade, foi submetido a uma dose de realidade que mostrava, sem eufemismos ou ombros amigos, que ele era carta fora do baralho, se é que havia entrado no jogo. Ela era um coringa que sorte alguma o deixaria comprar.
O desespero se revelou ao primeiro tiro. Os pedaços do coração da amada dilacerados pela pequena cápsula de metal disparada do objeto de redenção de seu orgulho, de sua paixão, de sua loucura. O corpo caído esfriando em suas mãos levando-o ao desespero de saber que aquele corpo não mais estaria quente ao seu lado, que nada devolveria o calor que outros provaram, mas que ele nunca teria o conhecimento de como era. De que ele não mais ouviria sua voz declarando que a vida era maravilhosa e que valia a pena fazer tudo para viver e amar.
A paz se revelou ao primeiro corte. O primeiro corte vertical no pulso esquerdo revelou o sangue que ele havia decidido que não voltaria ao coração. O jorro de sangue levava com ele todos os sentimentos que haviam se revelado junto com aquela foto e a utopia romântica que já há algum tempo definhava e sucumbia à desilusão. Cada gota de sangue que agora coagulava tratava de levar junto um pensamento, um pecado, um resquício de sanidade, até que não houvesse mais nada o que coagular.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Live or Die, Make Your Choise

Dizem que a vida se resume às oportunidades que temos e às decisões que tomamos diante delas, porém não eu definiria assim. Acho que a vida se resume às decisões imbecis que quase sempre tomamos. O mundo é rodeado por elas, as decisões imbecis. O ser humano tem por princípio optar pela estupidez.
Por exemplo, eu, deveria ter optado por não aceitar o emprego de mineiro, e sim, como muitos insistiram para que eu fizesse, seguir a carreira musical, pois com meu talento e sex appeal o sucesso era iminente. Claro que a experiência obtida na mina me levou a escrever o Manual do Mineiro da Luz, que em longo prazo me renderá alguma notoriedade pela repercussão do livro, porém só em longo prazo.
Outra escolha terrivelmente infeliz é um trecho de música colocado no comercial do álbum Intimidade, de Oswaldo Montenegro, onde se diz “E atrás tem alguém que virá, que virá, que virá” e que, ouvindo a música inteira, percebe-se que não há maldade alguma neste refrão,tratando-se de um relacionamento que acabou e que logo virá alguém para substituir o antes amado. Porém ouvindo apenas o trecho do comercial, ele deixa uma grande margem para interpretações de duplo sentido. A música tem trechos lindos, como “olhe bem nos meus olhos/ olhe bem pra você/ o fato é que a gente perdeu toda aquela magia”, mas é claro que os criadores da propaganda tinham que fazer alguma escolha ruim.
Mais uma opção péssima, aliás uma não, duas: as que Zagallo fez na final da copa de 98, contra a França. A primeira foi colocar Ronaldo, o Fenômeno, em campo depois de ter um ataque epilético no vestiário minutos antes do jogo. Ronaldo ficou se arrastando em campo enquanto Edmundo, naquela época “comendo” a bola, ficou no banco. Outra decisão errada dele foi não mandar quebrar a perna de Zidane antes dos 5 minutos de jogo. Poderia mandar o próprio Ronaldo lhe dar uma entrada mais forte, assim Zidane, que fez dois gols no jogo e acabou com zaga brasileira, sairia machucado e Ronaldo seria expulso, o que não faria diferença nenhuma, pois ele não jogou nada mesmo. O saldo destas duas decisões erradas foi uma vergonhosa derrota por 3 a 0 e a decepção geral da nação, pois Zagalo tinha nas mãos uma das melhores seleções brasileiras que já vi jogar.
O Baiano fez uma péssima escolha ao matar o Neto. O Coiote faz muito mal em tentar pegar o Papa-léguas e as ovelhas que aquele cachorro com o cabelo na frente do olho cuida. Arius se arrependeria até hoje de ter seqüestrado e filha de John Matrix (Schwarzenegger) em Comando Para Matar, se estivesse vivo para isso. Alguém fez muito mal ao dizer que o Tuta poderia jogar futebol. Muitas pessoas fazem muito mal ao torcerem para times que não são o Palmeiras. Os sobreviventes de Lost devem se culpar até hoje por terem caído naquela ilha, e não na de A Lagoa Azul, com uma loira nua o tempo todo ao seu lado. E sem “os outros”. Neo não deveria ter escolhido a bolinha vermelha em Matrix, isso lhe pouparia muito tempo e esforço. E talvez assim não tivessem feito os outros dois filmes da trilogia.
Enfim, estamos condenados a escolher a pior opção, da pior forma e na pior hora possível.

domingo, 23 de março de 2008

A Reunião

A caravana dos leprosos chegou no ponto de encontro quase uma hora antes. Medo de possíveis imprevistos que levassem a um atraso. Uma mão caída ali, uma orelha acolá. Genitais masculinos demandavam mais tempo pois ninguém ousava juntar. Seios também, pois todos queriam juntar.
Os magos chegaram em seguida, sem muito esforço. Abracadabra, temos uma carruagem para nos levar, alacazan, chegamos. Os alquimistas traziam chumbo para, caso precisassem de dinheiro, transformar em ouro. Ilusionistas traziam elefantes, apenas para terem algo para fazer desaparecer, acho. Algo de impacto. Pombos e coelhos tramavam, nos bastidores, um conluio para que os elefantes soubessem novamente quem é que manda.
Os políticos também vieram. Parlamentares, imperadores, ditadores, democratas, republicanos. E vereadores. Os lobistas garantiam que o circo iria pegar fogo. Nero viria. Só Saddam Hussein não veio. Problemas respiratórios. Dizem. Lula, Chavez, rei Juan Carlos. Todos vieram. Grande caixa dois. Por pouco tudo não teve que ser cancelado. Falta de verbas. Dizem.
Emos vinham chorando. Alguns por terem sido obrigados, por seus pais, a virem. Outro pela morte da mãe do Bambi. Outros por quererem ser o Bambi “temos tanto em comum”. Até a franja é parecida.
Merlin dá início à reunião, pedindo aos políticos isenção fiscal para que novos magos possam se estabelecer e viver razoavelmente pois, como sabem, são tempos difíceis. Lula afirma que pode ser difícil convencer o senado e a câmara. Chavez diz que isto é coisa dos mercadores sanguessugas de Satã. Estados unidos. Juan Carlos: Por que no te callas?
O líder dos leprosos toma a palavra, exige que os alquimistas desenvolvam um elixir da união da carne, ou dos pedaços de carne, ou dos membros soltos, ou algo do tipo. Merlin afirma que, com estes impostos, não dá. Os leprosos, revoltados, lançam seus dedos do meio contra os magos. Um dos dedos acerta o olho de um elefante, que corre assustado a esmo, esmagando dezenas de reunidos. Os emos choram. Merlin, revoltado com o choro desgarrado deles, os transforma em Bambis. Felicidade geral entre os emos. Lula tenta acalmar os ânimos, dizer que a economia vai bem, que o poder aquisitivo do povo nunca foi tão alto, que nunca houve um mercado de trabalho tão amplo, mas já é tarde, Nero já ateou fogo em tudo.
E viveram felizes para sempre. Dizem.

quarta-feira, 19 de março de 2008

A Música

Já há algum tempo decidi parar de discutir, com amigos ou com outros nem tão amigos assim, sobre música. Decidi parar com isso quando descobri que não há como delimitar o bom gosto musical. Podemos apenas tentar impor o nosso gosto musical argumentando que esse, sim, se trata de bom gosto musical. Mas é claro que poucos irão concordar conosco. Porém é possível, sim, delimitar um bom senso musical, o que me parece até muito fácil.
Por exemplo, como alguém pode afirmar que tem bom senso musical quando ouve, com um volume altíssimo, o clássico dos boleiros de hoje, o Créu. Como? Alguns argumentam que é bom para dançar. Plllrrrrrrrr (ruído de desdém)! Então eles gostam muito de dançar enquanto dirigem, ou conhecem alguma técnica de dança interior, que os faz terem uma satisfação interna enquanto ficam sentados quase que imóveis numa mesa de bar. Talvez o principal atrativo seja a diversidade de créus da música. Começamos agora com o Crrréééééééuuuu, crrréééééééuuuu, agora mais rápido créu créu créu créu créu, agora coelho cr cr cr cr cr cr. Inexplicável! Duvido que exista algum sentimento ligado a essa música, exceto, talvez, a compensação da falta de créus em suas relações amorosas.
Outro motivo pode ser o fato de não terem sentido o que uma música de verdade pode proporcionar. Talvez ao sentirem a alternância de paz e tensão nos vinte e poucos minutos de Echoes, do Pink Floyd, eles esqueçam do créu, e lembrem do céu. Talvez eles não queiram paz, mas sim adrenalina, então que tal ouvirem Smell Like Teen Spirit, do Nirvana, ou Enter Sandman, do Metallica, e descobrirem o arrepio empolgado que seus riffs iniciais causam. Talvez quando eles ouvirem a total (total!) perfeição de Staiway to Heaven, do Led Zeppelin, eles tenham a grande revelação de que sim, existe um Deus, pois não é possível acreditar que réles mortais sejam capazes de criar tal maravilha. Ou até, ficando no Brasil mesmo, eles precisem sentir o furacão emocional que passa pelo nosso corpo quando ouvimos algum grande clássico da Legião Urbana, ou a sensação de até esclarecimento universal ao ouvirmos as letras reveladoras de Humberto Gessinger e Raul Seixas. Ou a sensação que poderia ser descrita ao ouvirmos mais dezenas de bandas que poderiam ser aqui citadas.
Então que o bom senso prevaleça. Quer ouvir samba? Ouça Demônios da Garoa, não Inimigos da HP. Quer ouvir funk, ouça funk, como o de Frank Zappa e Jorge Benjor, não essa batida sem nexo que alguns imbecis tiveram a petulância de chamar de funk. Reggae, ouça Bob Marley, não Chimarruts ou outros destes insultos musicais tocados em rádios. E, antes de tudo, prezem pelo bom senso, pois tendo isso, com certeza o bom gosto está garantido. Concordem ou não, tenho dito.

sábado, 15 de março de 2008

Strange Days


Jim Morrison cantou certa vez: Os dias estranhos nos acharam/ Os dias estranhos seguiram nossos rastros/ Destruirão nossas mais simples alegrias/ Continuaremos a brindar ou encontraremos uma nova cidade? (Cantou isso em inglês, claro). É visível que, nos versos de Strange Days, música do grupo americano The Doors, a estranheza dos dias de hoje (digo hoje por que, mesmo tendo sido composta há mais de quarenta anos, o tema continua de uma atualidade ímpar) ganha um tom apocalíptico, porém visto por uma perspectiva menos pessimista, possui a sua magia e o seu lado engraçado.
Fui hoje a uma vídeo locadora no centro da cidade de Criciúma, locadora essa que talvez seja a maior da cidade, e da qual se espera que prezem pelo bom atendimento ao público. Bom, chegando lá, já pude notar a presença de cerca de quinze pessoas para serem atendidas por um único funcionário da locadora. É de se imaginar como estaria o humor deste funcionário. Cumprimentou-me com um boa tarde que, em um cenário um pouco (só um pouco) mais soturno soaria como um desses bordões de filmes de suspense.
Funcionário: “Hello Zé, I want to play a game.”
Eu: “Boa tarde.”
Funcionário: “Live or die, make your choise.”
Ou então você entra no recinto e ele olha para você com um giro de cabeça de cento e oitenta graus, e sussurra “Seven days”.
Depois outro fato me levou a entender o mau humor do balconista. Fora, obviamente, o excesso de mão de obra que tantos clientes juntos exige, a burocracia da locação é o cúmulo da falta de praticidade. Primeiro o locatário, que já tem um cadastro pronto, tem que apresentar a carteira de identidade. Depois de feita a identificação pela carteira, é feita uma nova por impressão digital, com um canhão de identificação a laser. Depois disso o cliente paga, passa pelo lado do balcão e pega o filme do outro lado, pois o atendente cruza o balcão para entregar lá, enquanto os outros quatorze clientes esperam na fila. Depois ele parte novamente e repete o mesmo processo com os outros locatários (ou candidatos a, pois creio que a probabilidade de ser barrado durante o processo seja grande). Surge ai um novo tipo de fonte de renda, os coiotes da locação, para os locatários ilegais.
E o oposto disso ocorre nas pequenas locadoras. A expectativa é baixa, porém a praticidade e o atendimento são exemplares, e você é recebido sempre de braços abertos. Refazendo os versos de Jim: Os dias estranhos nos acharam/ Os dias estranhos seguiram nossos rastros/ Destruirão nossas mais simples alegrias/ Continuaremos a locar, ou encontraremos uma nova locadora?

quarta-feira, 12 de março de 2008

Logoslogia

Sociologia, biologia, psicologia. Estas são algumas das “logias” que estudamos na escola, fazem parte do currículo da maior parte dos colégios do Brasil. Para comprovar a total deficiência da educação em nosso país, ilustro mais algumas de muito mais relevância, e que deviam ser ensinadas, tais como:
Boiologia – Estuda as três classes de boiolas, que são o Básico, o Moderado e o Ai, Você Tá Um Arraso. Ensina a reconhecer um homossexual, sem discriminação, é claro, e aponta táticas de defesa pro caso de um possível ataque (isso, claro, caso você queira se defender).
Michaeljacksonlogia – Devia ser tema de vestibular. É abrangido superficialmente na Boiologia, mas aqui é estudado mais detalhadamente. Geralmente, são recomendados estes três livros para um estudo mais aprofundado: Michael Jackson: A vida em preto e branco, As criancinhas do tio Jackson e Minha vida e meus narizes.
Clitorologia – Todo homem deveria saber esta matéria de cor e salteado (pelo menos é o que acham as mulheres). Ensina onde fica o clitóris, porque ali está, quais suas funções, mostra a diferença entre ele e uma verruga e expõe os significados dos Ais, Uis e Que Gostosos.
Pipocologia – Você sabe fazer pipoca ou seus milhos ficam sem estourar, isso quando não queimam? Pois nesta disciplina você aprende como fazer pipoca salgada, doce, com chocolate, melado, etc.
Baratologia – Muito útil para quando aquela sua vizinha linda do apartamento da frente vier até a sua casa pedindo ajuda pra matar aquele monstro horrível lá no quarto. Convém também fazer um curso de Arrumoatorneirologia. Com a barata morta e a torneira arrumada, ela estará a sua disposição.
Ornintorrincologia – Estudo daquele bichinho tão esquisito que habita a Oceania. Confesso que adoraria estudar essa matéria, pois admiro tal animal, principalmente por sua coragem em aparecer em público, mesmo sendo daquele jeito.
Tchaologia – Acabou, tchau.

sábado, 8 de março de 2008

Frases Famosas


Não consigo entender o tamanho sucesso da frase “O rato roeu a roupa do rei de Roma”. Por que esse sucesso? O que essa frase tem demais? Os erres? Se for por isso: O reitor rasgou a redação de Roger e releu a de Rui, rumou para a rua e repetiu o ritual de rir dos restos rasgados.
Ou poderia ser com esses:
- Seu Souza, o senhor é sexualmente semelhante ao Silvio Santos, ou serão somente seus sonhos?
T: Tudo traz tesão ao tarado, todavia todos tentam torna-lo terno.
F: O focinho do famoso filósofo Fofão foi ferido na frente da farmácia, fincado por um furão.
E não é somente esta frase que me tira do sério. Um prato de trigo para um tigre, dois pratos de trigo para dois tigres. Por favor, alguém já viu um tigre comendo trigo? Um pão francês que seja? Uma bolacha Maria? E que desperdício, com tanta gente passando fome. Podia ser: um prato de trigo para meu tio, que está desempregado faz dois anos com mulher e três filhos. Ou: um prato de trigo pra minha mãe fazer um bolo pra mim. Com cobertura de chocolate tá mãe?
Outras coisas pelas quais às vezes me flagro num resmungo interno são frases publicitárias, tais como: “Esse remédio é o bom pra gripe? Bom é, mas o marvado é esse aqui ó!”. Algumas vezes me pego criando alguns desses slogans imbecis. Aqui vão alguns:
De motel: Aqui se faz, aqui se paga.
De uma transportadora cujo dono é gay: Levo tudo na traseira.
De vibrador: By Parkinson.
De radinho à pilha: Shhhhrrrhhsssshhhhhhh.
Funerária: Só sai daqui morto!
Usina nuclear: Um olho é pouco, dois é bom, três é urânio.
Manicure: Não meta os pés pelas mãos!
Eu seria o maior sucesso no mundo da publicidade, teria até meus próprios slogans: Zé Gota, o publicitário do armário (somente para mulheres casadas). Ou: Zé Gota, cabeça diretamente proporcional às idéias. Não, essa não, pois acabariam me confundindo com a Mula-sem-cabeça, e não é bem assim, pois minha cabeça é enorme, pelo menos em relação às cabeças de outras pessoas. Mas seria pequena em relação à de um tricerátops, já que... bom, acho que é hora de encerrarmos por hoje. Eu disse que já é hora de encerrarmos por hoje. Por que você continua lendo? Está me fazendo fugir do tema. Bom, se não sai você saio eu, tchau.

terça-feira, 4 de março de 2008

Manual do Mineiro da Luz


Paulo Coelho, o escritor que mais vende livros no Brasil há cerca de dez anos, passou em sua jornada espiritual por diversas provações, onde adquiriu muito conhecimento, inclusive de supostas técnicas de magia e alquimia. Ele publicou muitas destas lições e ensinamentos em seu livro Manual do Guerreiro da Luz, pois de que vale o saber sem repassa-lo à alguém? O livro ensina uma pessoa do bem a lutar por um mundo melhor e tornar-se uma pessoa cada vez mais do bem.

Bom, também eu passei por várias provações em uma empresa de extração de carvão mineral para poder alcançar um nível mais elevado de percepção mineradora, para poder entender melhor como a mina funciona e conhecer os atalhos de uma convivência harmoniosa e produtiva no trabalho. Infelizmente, minha visível superioridade técnico-teórico-produtiva na empresa não foi vista com bons olhos por meus superiores hierárquicos, o que culminou em minha demissão, mas isso não vem ao caso. O importante é que esta experiência me levou a desenvolver um manual que deve ser seguido por todo trabalhador de extração de carvão: o Manual do Mineiro da Luz. Descrevo aqui os principais pontos do livro, como um aperitivo.

  • Todo Mineiro da Luz deve lavar-se lentamente para que o carvão, que ao fim de um dia de trabalho consegue penetrar nos cantos (cantos, não orifícios) mais obscuros do corpo, seja totalmente removido e devolvido à natureza, retomando seu ciclo natural.
  • Ele nunca deixa sua roupa e comida expostos, pois sabe que vestir uma blusa com dezenas de nós é quase impossível. Aprendeu também, da pior maneira, que graxa no meio do pão causa imenso dano ao paladar.
  • Vocabulário do Mineiro da Luz:

Em Acha: Cansado, exaurido, estafado.

Tauba: Tábua.

Chilame: Resíduo líquido de carvão não-beneficiado.

Muu: Corno, ser do sexo masculino traído pela mulher.

  • Um Mineiro da Luz sabe que o banheiro é um conceito ultrapassado, e que qualquer canto vagamente escuro da mina é digno de receber o fruto de nossas necessidades fisiológicas.
Por fim, o Mineiro manuseia sua marreta com a perícia de um samurai, veste sua bota e seu capacete com a paixão de um kamikaze, e usa esse manual com a sabedoria e humildade de quem sabe que sempre há algo o que aprender.

domingo, 2 de março de 2008

Insensatez


E eis que aconteceu mais um atentado no Iraque (um dos noticiados, pois os de “pequeno porte” ocorrem quase que diariamente, mas a morte de três ou quatro pessoas parece não ter relevância suficiente para justificar o gasto de alguns segundos de programação) onde morreram16 pessoas. Quatro delas eram soldados americanos, enquanto as outras 12 eram civis iraquianos. Este é o saldo da derrocada do império de Saddam, ou Sattam, como bush certa vez o rotulou, talvez tentando passar adiante o próprio rótulo.
É nítido que a principal causa dessa guerra foi a insensatez. A insensatez motivacional da invasão americana no Iraque, que foi iniciada por conta de bombas inexistentes, religiões divergentes, petróleo aos montes e democracia imposta, se é que cabe o termo. A insensatez suicida de um povo cultural e religiosamente humilhado, o que o leva a revidar com a sutileza de uma bomba amarrada à cintura. Este povo, me referindo agora aos muçulmanos em todo o mundo, além de sofrer com o preconceito de todo o ocidente, ainda sofre preconceito da pessoa à qual é atribuída a função de zelar pela paz: o Papa.
É dele a frase que foi a mais insensata do ano passado, talvez da década: “Os muçulmanos são o mal do mundo”. Sua Santidade deveria ser o membro mais sensato da igreja! E talvez seja, pois a sensatez nunca foi uma das características mais marcantes da igreja. A igreja vem sendo insensata desde a inquisição, passando pelo período de caça às bruxas, pela crucificação de gênios como se fossem hereges, até a insensata teimosia de hoje em continuar transformando progresso em pecado. Camisinha, pesquisa com células tronco, aborto, todas estas coisas que são condenadas quando deveriam ser discutidas para que se encontrasse um denominador comum da melhor forma de usá-las. Mas é claro que ninguém é sensato o suficiente para faze-lo.
Enfim, a insensatez do ocidente ao oriente, do rico ao pobre, da igreja à ciência, vem deteriorando as relações humanas de tal maneira, que a intolerância se apodera da mente dos líderes mundiais em geral, impedindo-os assim de pensar com clareza. O inconsciente coletivo comanda as ações de todos os lados, o que pode nos levar a um futuro atentado de proporções catastróficas. Que tal Bin Laden com uma Bomba H nas mãos? O Papa pensaria duas vezes antes de denegrir publicamente a religião alheia e Bush pensaria duas vezes antes de derrubar estátuas.