quarta-feira, 9 de abril de 2008

Ode

Costumo muitas vezes criticar o cinema de hoje e, acima de tudo, os diretores de cinema, pelo excesso de efeitos especiais, tanto visuais como sonoros, e a falta de apego em coisas na minha concepção mais interessantes, como o roteiro, a fotografia e a atuação dos atores. Pois para que precisamos de um roteiro com diálogos geniais se temos o Homem-aranha se pendurando entre os prédios e matando vilões malvados? Ou que fotografia é melhor do que Brad Pitt e Angelina Jolie casados, espiões e tentando matar um ao outro?
Bom, na verdade, entrei no assunto não para fazer críticas, mas sim uma quase ode. Ode ao diretor mexicano Guillermo Del Toro. Por ele, mesmo depois de ter dirigido lixos cinematográficos como Blade 2 e Hellboy (alguns argumentarão que os dois são, no mínimo, bem dirigidos, aos que pensam assim vide primeiro parágrafo), dirigir os dois filmes mais belos e emocionantes que vi nos últimos anos: O Labirinto Do Fauno (2006) e O Orfanato (2008).
O Labirinto Do Fauno é como um conto de fadas com um tema extremamente adulto: uma menina tenta realizar seus sonhos de conhecer os imaginários pais e ser princesa no reino deles por meio de tarefas que lhe são impostas pelo Fauno, tudo isso enquanto por fora corre um intrigante jogo revolucionário da época da ditadura de Franco na Espanha. Sem falar na união de uma fotografia que enche os olhos, um roteiro com diálogos que enchem os ouvidos e a atuação da menina Ivana Baquero, no papel de Ofélia, que enche o coração de esperança e alegria. E pode juntar à mistura um dos piores Generais que uma ditadura poderia nomear (padrasto de Ofélia), capaz de crueldades que só assistindo ao filme pode-se crer.
Já O Orfanato é um suspense-terror-drama que beira à insanidade. Uma mulher se muda, com marido e filho, para o orfanato onde foi criada, para criar seu filho e ajudar outras crianças que não têm onde viver. Porém esse orfanato possui crianças que atormentam as demais crianças que por lá chegam. A partir daí corre uma trama surpreendente e um final que, digo sem a menor vergonha, me fez chorar. Isso mesmo. Um suspense que leva espectador às lágrimas. Coisa rara não? Alguns já haviam me feito chorar tamanha a emoção e beleza, como A Lista De Schindler e Coração Valente, agora nunca um suspense... Nunca!
Mas o melhor dos dois filmes é uma combinação presente em ambos: a inocência das crianças em meio a um filme de conteúdo mais do que adulto. A menina sonhando com seu reino em meio à mais ferrenha ditadura no primeiro e o menino em meio ao dilema da vida e da morte, com o HIV para dramatizar ainda mais o tema lindamente abordado. Ah, e não esperem, de modo algum, um final feliz imbecil e clichê. Os finais podem são surpreendentes e emocionantes, mas não felizes. Apenas o espectador fica feliz depois de ver esses que serão pra mim, sem dúvida, verdadeiros clássicos do cinema.
E, o melhor, mandam uma bela banana para Hollywood e seus efeitos especiais.

4 comentários:

Flavia Melissa disse...

Pois vc sabe que o Labirinto é, na verdade, o processo de enlouquecimento de uma menina?

Tá tudo lá: o pai ausente e o padrasto austero, a mãe doente e frágil que troca a vida pela do bebê (esse sim super amado e desejado, ao contrário da pequena)... A inveja do irmão e o desejo inconsciente de morte do mesmo.

Uma coisa, assim... Esquizofrenia de livro, com direito a alucinações e tudo o mais.

Adoro!

Anônimo disse...

Boas histórias, boa fotografia, nada muito complicado para se fazer um bom filme. Mas é justamente o que falta prá esses caras. Quando sobra efeitos, falta criatividade.

Unknown disse...

Adoreeeei esse filme, assim, de sonhar a noite inteira depois.
Mas não concordo muito com a história do enlouquecimento da menina, prefiro pensar que é uma série de provações mesmo na busca da própria identidade... rs, talvez eu seja romântica demaaaais!
Beijos!

Anônimo disse...

O labirinto me encantou.E a impressão que eu tive foi mais ou menos a mesma que a da Flavia que postou aí em cima.



Beijocas
www.lizziepohlmann.com